Tenho dito há algum tempo que o mercado de ações contínua crescendo no Brasil com muita força. Antes da oferta pública de ações (OPA) da Bovespa Holding, a venda de papéis em seu pregão de estréia parecia depender - ao menos para quem não tinha horizonte de investimento de longo prazo - majoritariamente da variação no preço dos papéis na ocasião da estréia.
Na última quinta-feira, investidores de varejo com prioridade tomaram conhecimento do montante de ações que levariam na oferta publica Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), apenas R$ 1.820,00 ou 91 ações ordinárias da empresa.
O montante causou decepção entre muitos que esperavam obter ganhos absolutos similares àqueles registrados na oferta da Bovespa, que trouxe lucros de cerca de R$ 6.000,00 apenas no pregão de estréia para quem recebeu o limite máximo no varejo e vendeu no pico da valorização do dia da estréia.
A notícia do rateio bastante limitado levou muitos investidores a se questionarem se seria melhor não vender as ações na estréia e esperar por preços ainda melhores. Para obter os R$ 6.000,00 que a oferta da Bovespa retornou a quem levou os R$ 12.000,00 do rateio, as ações da BM&F teriam que avançar 330%, ou mais do que quadruplicar seu valor, já que cada papel teria que atingir R$ 86,00. Este não é um movimento comum no curto prazo e menos ainda no intraday.
Segurar ou vender?
Uma ponderação ex-post da oferta da Bovespa, por exemplo, sugere que quem resistiu à valorização de 52,13% que os papéis registraram em seu pregão de estréia e não os vendeu até o dia 31 de outubro, um dia após a data de liquidação, acumulou, até então, ganhos de 41,30%. Os papéis voltaram a subir depois disso.
Em todo caso, a tendência que as ações apresentarão após suas estréia não depende de um fator único, mas estará sujeita, sobretudo, às condições do mercado e do perfil da empresa, seu desempenho operacional e financeiro e as perspectivas para seus negócios.
Portanto, avaliar se vale ou não a pena vender os papéis da BM&F em seu pregão de estréia, ou se estes apresentam boas perspectivas de longo prazo, está longe de se limitar a avaliar o desempenho passado de ofertas públicas de ações anteriores.
Afora o próprio perfil do investidor, o custo de oportunidade e as perspectivas para o cenário macroeconômico, que se configura como um risco ao mercado acionário em geral, não se limitando, portanto, apenas a esta ou aquela empresa, é preciso olhar com algum cuidado para a empresa, seus negócios e resultados, e com a BM&F não é diferente.
Atenção ao que é fato
| (em R$ milhões) | 9T06 | 9T07 | % |
| Receita Líquida | 219,6 | 292,6 | +33,24% |
| Ebitda* | 64,9 | 136,5 | 110,32% |
| Lucro Líquido | 143,1 | 222 | 55% |
De acordo com a empresa, sua principal fonte de receitas são os emolumentos, isto é, a cobrança de taxas pela utilização de seus sistemas de negociação e pelos serviços prestados por suas Clearings, que atuam como contraparte central garantidoras das operações registradas, as quais decorrem taxas que representam os custos operacionais de seus clientes, como taxa de registro, taxa de permanência e taxa de liquidação.
Estratégias de negócios
Em relação à sua estratégia, a BM&F esclarece em prospecto que os pontos-chave desta são a ampliação do volume negociado por clientes estrangeiros, através do desenvolvimento - já em andamento - de mecanismos que diminuirão seus custos que facilitarão sua participação nos mercados da BM&F e o desenvolvimento de nova plataforma eletrônica de negociação, com início de funcionamento previsto para 2008.
Está previsto também o desenvolvimento de nova plataforma de registro de operações de derivativos de balcão, o lançamento de novos produtos, como o contrato futuro de credit default swap (CDS) da dívida externa brasileira, expansão das atividades de Clearing de Ativos, expansão da atuação do Banco BM&F e busca de novas alianças e parcerias.
Não se pode perder de vista, porém, que tão importante quanto avaliar as qualidades e características da empresa, é a avaliação dos riscos inerentes aos negócios da empresa. Conhecer a empresa, seu mercado de atuação, seus riscos e os cenários aos quais esta pode estar exposta é essencial para quem planeja ter em sua carteira ativos cujo horizonte de retorno é de longo prazo.

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