quarta-feira, junho 11, 2008

Ganhos com ações da Bovespa podem chegar a 54% em 2008, dizem corretoras

Por Francine De Lorenzo

EXAME Analisando o histórico das ações de Bovespa Holding (BOVH3) e Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F - BMEF3 ) nos últimos meses, qualquer investidor ficaria ressabiado com a recomendação de compra das corretoras. Neste ano, os papéis da Bovespa recuaram 28,93%, sendo 15,30% somente nos primeiros dez dias de junho. As ações da BM&F tiveram desempenho ainda mais desanimador: foi um tombo de 37,26% no ano, e de 15,18% neste mês. E, pela previsão dos próprios analistas, essa trajetória de queda ainda deve durar mais algum tempo.

Mas, o que à primeira vista parece um mau negócio, é na verdade uma boa oportunidade de investimento, garantem os especialistas. Pelos cálculos da Itaú Corretora, as ações da Bovespa têm potencial para subir 49,77% ainda em 2008, chegando ao final de dezembro cotadas a 34 reais. A corretora Planner também projeta forte alta para os papéis: 54,18%, com estimativa de preço-alvo de 35 reais no final do ano. Ambas as instituições focam suas indicações nas ações da Bovespa, mas já não vêem muita diferença entre os papéis das duas bolsas. “Com o anúncio de fusão, as ações de Bovespa e BM&F passaram a andar juntas. Se uma sobe ou cai, a outra acompanha”, explica Rodney Otero Melhados, analista da Planner.

Ação Preço Atual (R$)* Preço no IPO (R$) Variação desde IPO (%) Variação no mês (%) Variação no ano (%)
Bovespa ON 22,70 23,00 -1,30 -15,30 -28,93
BM&F ON 15,65 20,00 -21,75 -15,18 -37,26
Ibovespa -4,56 8,44
* cotação de fechamento de 10/06/08
Fonte: Bovespa

A visão otimista das corretoras para os papéis é baseada em três pontos. O primeiro deles é de que a queda dos últimos tempos é circunstancial. “As ações sofreram muito por conta da crise de crédito nos Estados Unidos. Os investidores estrangeiros, que foram os grandes compradores dos papéis na oferta pública, acabaram vendendo as ações para fazer caixa, e isso derrubou os preços no mercado”, diz Melhados. Para agravar a situação, no final do mês passado, as corretoras que haviam oferecido no IPO (sigla em inglês para oferta pública inicial) apenas parte de suas ações da BM&F se viram livres para negociar o restante. Pelas regras da operação, elas não poderiam se desfazer dessa participação até o dia 31 de maio. “Como as corretoras já não precisam dos papéis para operar, o mercado foi inundado por mais 500 milhões de ações. Eis o motivo da queda acentuada neste mês”, afirma Victor Mizusaki, analista da Itaú Corretora.

As instituições não arriscam prever até quando essa maré negativa vai durar, mas são enfáticas ao afirmar que ela vai passar. “A Bovespa tem um potencial de crescimento muito maior que o das bolsas lá fora. O mercado acionário brasileiro ainda é adolescente e o grau de investimento deve impulsionar a entrada de recursos estrangeiros no país”, diz Melhados. Como a receita da Bovespa é composta basicamente por um percentual cobrado sobre o valor de cada operação, quanto maior o número e o volume de transações, melhor.

Neste ano, até maio, os investimentos estrangeiros na Bovespa somam 8,3 bilhões de reais. Comparando-se esse valor ao de anos anteriores fica evidente a maior confiança dos investidores estrangeiros no país. Nos cincos primeiros meses de 2005, os estrangeiros mantiveram na Bovespa apenas 144,6 milhões de reais, valor que saltou para 1,7 bilhão de reais em 2006. Em 2007, com a onda de IPO´s – foram 22 até o final de maio –, esse valor chegou a 17,2 bilhões de reais.

É fato que a crise das hipotecas de alto risco (subprime) reduziu o volume de recursos disponíveis para investimento no mercado acionário e inibiu novas ofertas públicas de ações. Mas, para Mizusaki, os investimentos estrangeiros poderão chegar à Bovespa também de forma indireta, por meio de fundos como GP Investimentos e Tarpon, que têm ações na Bolsa. “Grande parte dos fundos internacionais não têm analistas para estudar o mercado brasileiro. Por isso, é mais fácil investir em fundos do GP e da Tarpon”, explica.

Além disso, é cada vez maior o interesse dos pequenos investidores pelo mercado acionário. Em 2002, eles eram cerca de 85.000. Hoje, já ultrapassam os 486.000. Há seis anos, as pessoas físicas representavam 15% dos investidores e movimentavam 2,8 bilhões de reais. No mês passado, já eram 26%, negociando 65,3 bilhões de reais. Com isso, as operações via home broker dispararam, registrando volume médio diário de 1,84 bilhão de reais. “O mercado interno ainda tem muito espaço para crescer, e não há dúvidas de que isso vai ser revertido em ganhos para os acionistas da Bovespa”, diz Mizusaki.

Ágora revisa projeções de investimentos

A Ágora revisou suas projeções e realizou alterações em suas carteiras recomendadas. Para a moderada, a corretora reduziu o peso dos papéis da Vale, em função do anúncio de oferta pública primária de ações da companhia.

Segundo os analistas, os ativos da mineradora poderão ser pressionados no curto prazo, pelo tamanho da possível oferta de US$ 15 bilhões (9% do capital social da empresa) e as incertezas quanto ao direcionamento do montante.

A Ágora também diminuiu o peso das ações da AmBev em sua carteira moderada, com a finalidade de diminuir riscos de curto prazo, relacionados à nova tributação do setor de bebidas e à possível aquisição da cervejaria Anheuser-Bush pela InBev (controladora da AmBev).

Os analistas trocaram os papéis da Usiminas pelos da Gerdau na mesma carteira, influenciados pelo crescimento nos lançamentos residenciais no país e investimentos em infra-estrutura do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

No mesmo cenário de mudanças, a corretora preferiu as ações do Itaúsa em detrimento dos ativos do Banco Pine, adotando uma estratégia mais defensiva na carteira moderada.

Há a entrada das ações da Confab e da Sulamérica nas sugestões moderadas da corretora. No primeiro caso, a recomendação baseia-se no cenário promissor de investimento na expansão da malha de gasodutos no Brasil, que deverá se traduzir em demanda consistente por tubos. Quanto à segunda inclusão, a corretora acredita numa evolução para o setor de seguros, refletindo em guidance positivo para a companhia nos próximos meses.

Os analistas optaram pela retirada dos papéis da Embraer na carteira moderada, devido ao cenário macroeconômico desfavorável, explicitado pela constante elevação do petróleo e valorização do real frente ao dólar.

Confira a carteira moderada
Empresa Código Preço Alvo* Upside** Peso
Petrobras PETR4 R$ 66,00 43,5% 22,5%
Confab CNFB4 R$ 9,32 24,8% 5%
CSN CSNA3 R$ 122,67 62,9% 21,1%
Gerdau GGBR4 Em revisão - 9,9%
B2W BTOW3 R$ 84,00 30,7% 5,6%
Suzano Papel e Celulose SUZB5 R$ 37,70 30,9% 5,5%
AmBev AMBV4 R$ 166,00 56% 5%
Vale VALE3 R$ 89,96 54% 15,5%
Itaúsa ITSA4 R$ 15,27 44,9% 4,9%
Sulamérica SULA11 R$ 47,24 45,4% 5,1%
*Visando dezembro de 2008 **De acordo com o fechamento de 11/06/08

Alteração nas preferidas Quanto às top picks, saem as ações da Vale para a entrada dos ativos da Confab. Os analistas crêem que os papéis da Confab oferecem melhor possibilidade de valorização em relação aos da mineradora.

Empresa Código Preço Alvo* Upside** Peso
Petrobras PETR4 R$ 66,00 43,5% 24,9%
Confab CNFB4 R$ 9,32 24,8% 15%
CSN CSNA3 R$ 122,67 62,9% 25%
Bematech BEMA3 R$ 16,23 94,9% 15%
BM&F BMEF3 R$ 24,00 53,4% 20,1%
*Visando dezembro de 2008 **De acordo com o fechamento de 11/06/08