quarta-feira, junho 25, 2008

Quem se benefecia com a alta da Selic?

Diante de um maior aperto monetário tomado como certo pelo mercado, e praticamente confirmado pelas últimas manifestações das autoridades do Banco Central, quais ações podem se beneficiar deste cenário?

Atualmente, a taxa básica do juro brasileiro está a 12,25% ao ano, elevada pela primeira vez após dois anos em abril último, em 0,50 ponto percentual, ação repetida pelo Comitê de Política Monetária em seu encontro subseqüente.

Segundo o último relatório Focus, divulgado na segunda-feira (23), o mercado projeta Selic a 14,25% ao ano ao final de 2008, o que significa que as expectativas convergem para incremento na taxa de 200 pontos-base ao longo dos próximos quatro encontros da autoridade monetária.

Diante deste quadro, especialistas apontam quais setores da bolsa serão menos e mais afetados.

O primeiro setor apontado pelos especialistas como favorecido pela Selic mais alta é o financeiro. "Os bancos se beneficiam, pois mesmo antes do Copom começar a atuar - elevando o juro - eles já conseguiram repassar o aumento da taxa básica", avalia Clodoir Vieira, economista da corretora Souza Barros. "Para os bancos pode ser bom no ganho com operações baseadas no juro, mas é ruim por que o aumento da Selic pode prejudicar a demanda pelo crédito", pondera menos otimista, Silvio Campos, economista-chefe do banco Schahin.

"Os bancos são os únicos beneficiados, já a lista de prejudicados pode se estender mais", alerta Vieira.

Construtoras: as mais prejudicadas

"A percepção do aumento de juro somada ao cenário externo mais deteriorado torna a situação muito difícil, o sinal da bolsa tende muito mais para o negativo", avalia Campos Neto, do Schahin, "principalmente no curto prazo", completa.

"Os segmentos que vêm se beneficiando com o aquecimento da economia serão prejudicados tanto pelo aumento de juro interno quanto externo", aponta o economista, referindo-se ao já sinalizado aperto monetário na Europa e à possível elevação da taxa básica norte-americana. Campos cita como desfavorecidos os setores de consumo, construção civil, siderurgia e mineração.

"As mais prejudicadas seriam as construtoras, porque elas dependem muito de financiamento, e o encarecimento do crédito pode reduzir a procura por imóveis", avalia Vieira, da Souza Barros. "Principalmente aquelas voltadas à população de baixa renda".

Menor demanda por financiamento

Da mesma forma, o financiamento de carros também pode ser afetado pela redução da demanda por crédito, acredita Vieira. Assim, uma vez que as montadoras não têm capital aberto no Brasil, as ações de empresas de bens industriais ligadas ao setor automobilístico, como siderúrgicas e fabricantes de autopeças, podem sofrer com o desaquecimento das vendas via financiamento de veículos.

"Se o consumidor financiar um bem agora, ele irá pagar por quinze anos uma taxa que está quase no seu pico, o que não vale a pena", explica o economista da corretora Souza Barros.

Já em relação aos fundamentos macroeconômicos, Campos, do Schahin, acredita que o aperto monetário deve ser eficiente no controle da inflação, o que beneficiará o consumo e propiciará a retomada da atividade econômica a patamares mais elevados, contudo "no curto prazo, a tendência é de queda na bolsa", reforça.

Cresce o número de pessoas com nome sujo

A inadimplência dos consumidores subiu um ponto-base entre abril e maio, atingindo 13,9% das operações de crédito no quinto mês do ano. Do total, 6,6% das movimentações registraram atraso médio entre 15 e 90 dias e 7,3% eram aquelas não-pagas há mais de 90 dias.

De acordo com os dados da "Nota de Política Monetária e Operações de Crédito", divulgada pelo Banco Central nesta terça-feira (24), a taxa de não-pagamento registrada no quinto mês deste ano é dois pontos-base maior do que a apurada no mesmo período de 2007.

Dentre as modalidades de crédito acompanhadas, a maior inadimplência em maio ficou com a linha de aquisição de outros bens. As dívidas em atraso deste segmento chegaram a 23,7% do crédito concedido, ante 22,6% no mesmo mês do ano passado.

A inadimplência do cheque especial, que caiu de 12,4% para 12,1% na comparação anual, também merece destaque, por ser a segunda maior da análise.

Na tabela abaixo, é possível avaliar a composição da taxa nas diversas modalidades, por prazo (entre 15 e 90 dias e mais de 90 dias), para maio de 2008 e o mesmo período do ano anterior:


2007 2008
Operação Até 90 dias Mais de 90 dias Total Até 90 dias Mais de 90 dias Total
Cheque especial 3,2% 9,2% 12,4% 3,2% 8,9% 12,1%
Crédito pessoal 4,3% 5,3% 9,6% 4,5% 5,2% 9,7%
Aquisição de Veículos 7,3% 3,3% 10,6% 7,6% 3,7% 11,3%
Aquisição de bens (outros) 10,2% 12,4% 22,6% 10,5% 13,2% 23,7%
Fonte: Banco Central

terça-feira, junho 24, 2008

Juro ao consumidor sobe mais; cheque especial é o vilão


Taxa do cheque especial teve a maior variação mensal dentre as modalidades de crédito

Fernando Nakagawa e Fábio Graner, da Agência Estado

BRASÍLIA - As taxas de juros ao consumidor continuam subindo. Pesquisa do Banco Central mostrou que o juro médio subiu de 37,4% em abril para 37,6% ao ano em maio. A elevação ocorreu nas linhas de crédito para as pessoas jurídicas, cuja taxa média passou de 26,3% para 26,9%. Nas operações voltadas às pessoas físicas, apesar da leve queda da taxa média, o juro do cheque especial teve a maior variação mensal dentre as modalidades de crédito, passando de 152,7% ao ano para 157,1% ao ano. No segmento pessoa jurídica, a elevação mais significativa ocorreu na conta garantida, cuja taxa média passou de 65% ao ano para 66,4% em maio.

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O BC também informou que o spread médio das operações de crédito - diferença entre os juros de captação e as taxas cobradas nos empréstimos - caiu de 25 pontos porcentuais em abril para 24,5 pontos em maio. O spread das linhas de empréstimos para as empresas teve leve aumento, passando de 14,4 pontos porcentuais (abril) para 14,5 pontos (maio). Nas operações para pessoas físicas, o spread caiu de 34,6 pontos para 33,5 pontos.

O BC informou ainda que o prazo médio dos empréstimos permaneceu em 370 dias corridos, prazo idêntico ao observado em abril. O período dos empréstimos para as empresas cresceu, na média, apenas um dia, para 299 dias corridos, ante abril. Nas linhas para as pessoas físicas, o prazo permaneceu em 457 dias corridos.