Mais: se você não consegue lidar com a volatilidade, é possível que não tenha nascido para a Bolsa.“Cinco anos seguidos de alta atraíram para a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) gente sem tempo, paciência ou estômago para ações”, diz Luiz Medina, sócio da M2 Investimentos. “Muitas pessoas que não poderiam ou não deveriam acabaram entrando no mercado de ações. São elas que agora estão desesperadas, sem saber o que fazer.”
Os efeitos da crise do sistema financeiro dos Estados Unidos vêm testando a aptidão dos compradores de ações nos últimos meses – e, com destaque, nos últimos dias. Dos 11 pregões de setembro, sete foram de (muita) queda. Ontem, o pânico se instalou com o anúncio de concordata do Lehman Brothers, quarto maior banco de investimentos dos EUA. Em meio ao clima de hecatombe, a Bovespa recuou 7,59%.
“Quem agora está se perguntando ‘por que fui entrar na Bolsa?’ não conhece o jogo e foi induzido, por um erro próprio, a acreditar que tudo se recuperaria”, diz o sócio da Tag Investimentos, Marcelo Pereira. Para evitar o remorso, o investidor precisa tomar uma decisão, e rápido. “O ideal é manter as ações”, diz. “Mas se resolver deixar a Bovespa, o aplicador deve sair de uma vez. Não tem meio termo.”
Medina concorda, e vai além: “Se o investidor está desconfortável, faz sentido vender as ações. Saia da Bovespa, mas para mudar de aplicação, e não para voltar quando o mercado melhorar”, afirma. Quando tal premissa não está clara, cresce o risco de só conseguir comprar papéis na alta para vendê-los, com prejuízo, na baixa. “Por mais estranho que pareça, o momento é de comprar, e não de se desfazer das ações”, diz.
Saída a conta-gotas
Para outros analistas, há alternativas para diminuir o impacto de uma saída brusca. Nada garante que vender ações aos poucos reduzirá os prejuízos – esperar demais pode até agravá-los. Mas uma opção é começar pelos papéis mais líquidos, ou seja, mais facilmente vendidos. É o caso dos chamados “blue chips”, como Petrobras e Vale. “A chance de o investidor derrubar o preço das próprias ações em busca de um comprador é menor”, diz o sócio da Verax Serviços Financeiros, Marcelo Xandó. A sugestão, reforça, é só para os casos extremos. “Manter o sangue-frio ainda é o melhor.”
Outra alternativa é começar a “juntar os cacos” pelas ações que ainda estiverem no azul ou, no mínimo, menos no vermelho. “O investidor pode manter as ações em que o recuo foi mais forte e vender aquelas em que o prejuízo estiver menor”, aconselha Xandó.