sexta-feira, julho 04, 2008

Maioria dos investidores prevê alta moderada do Ibovespa até o final do ano

Os investidores estão confiando na manutenção do ciclo positivo do principal índice acionário da Bovespa iniciado em 2003. Ainda que admitam uma valorização em 2008 bem abaixo da registrada nos últimos cinco anos. Assim ficou o resultado de enquete promovida pela InfoMoney.

Diante da pergunta: "qual deve ser o comportamento do Ibovespa no segundo semestre?", 1.694 escolhas (48,08%) foram atribuídas à opção "alta moderada". Atualmente, a bolsa patina no patamar dos 59 mil pontos e acumula perdas próximas de 6% em 2008. A primeira metade do ano foi a pior do índice desde 2005.

O viés mais otimista ficou para a segunda colocada no levantamento. A tese "forte alta" angariou 20,83% dos votos. A terceira alternativa mais lembrada foi a "relativa estabilidade", que conquistou cerca de 19% dos usuários.

Perspectivas
A fuga dos investidores estrangeiros do mercado tem sido fundamental para a performance negativa recente. O Citigroup revisou o "chão" do índice de 65.000 pontos para 60.000 pontos, avaliando que a escalada nos preços das commodities devem sofrer um ajuste e abalar o Ibovespa.

Por algum tempo o índice conseguiu fugir da derrocada das bolsas nos EUA e Europa, mas em junho novas incertezas sobre o crescimento global guiaram o termômetro da renda variável brasileira a uma queda superior a 10%. Pouco mais de 10% dos consultados considera a manutenção do Ibovespa em campo negativo até o final do ano.

Em entrevista à InfoMoney TV, o estrategista do Deutsche Bank Guilherme Paiva afirmou que os fundamentos da bolsa estão se deteriorando. Para ele, o segundo semestre será um período bastante "conturbado e problemático" para as ações no Brasil.

Veja os resultados da enquete

Qual deve ser o comportamento do Ibovespa no segundo semestre? Votos Percentual
Alta moderada 1.694 48,08%
Forte alta 734 20,83%
Relativa estabilidade 694 19,70%
Leve baixa 204 5,79%
Forte baixa 197 5,59%
Total 3.523 100%

E a Bovespa perde para outros investimentos

Após ter sido o melhor investimento em fevereiro, a Bovespa mostrou fraco desempenho no terceiro mês do ano e voltou para o posto de pior investimento do mês, obtido também em janeiro de 2005. A bolsa tem mostrado forte volatilidade, alternando mês a mês a melhor e a pior rentabilidade dentre os investimentos.

O fraco desempenho da Bovespa pode ser explicado pela cautela do mercado com o juro norte-americano e com o juro brasileiro, além de um movimento de realização de lucros. Indicadores da maior economia do mundo e pronunciamento do banco central do país sinalizaram ao longo do mês que o juro dos Estados Unidos poderá subir em ritmo mais acentuado, para conter pressões inflacionárias.

A elevação da Selic em 50 pontos base, para 19,25% ao ano, também atraiu a atenção dos investidores aqui no Brasil. A medida levou em consideração indicadores internos e a estratégia de manter o fluxo de investimentos externos ao país. O dólar, nesse sentido, registrou alta em março, com a saída de capitais, em decorrência do novo juro norte-americano. O dólar Ptax, assim, ocupou o posto de melhor investimento.

Economia dos EUA em foco
Nos Estados Unidos, foi anunciada uma elevação do juro básico, em 25 pontos base, para 2,75% ao ano, em linha com o esperado. Por outro lado, preocupando analistas do mundo todo, o banco central se pronunciou, mostrando apreensão com a inflação do país e sinalizando a possibilidade de novas altas no juro.

Também trouxe cautela o fato do petróleo ter registrado expressiva valorização no mercado de Londres e de Nova York em março. O mercado especulava que a oferta da commodity não seria suficiente para atender sua demanda latente. Vale citar que a alta no preço do barril tem impactos na inflação e no crescimento da economia mundial.

Selic a 19,25% ao ano
O Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, elevou novamente a Selic nesse mês, no limite superior das expectativas do mercado. A taxa passou de 18,75% ao ano para 19,25% ao ano. Com isso, as projeções do mercado, segundo o relatório Focus do BC, passaram a apontar ritmo menor de queda do juro. Dados da economia já mostraram sinais do impacto do aperto monetário.

A Ata do Copom, por sua vez, trouxe um tom bem mais brando do que a das reuniões anteriores do colegiado. Mesmo assim, não foi suficiente para deter a forte queda da Bovespa no período. O CDI apresentou boa rentabilidade.

Bolsa foi o pior investimento
Os investimentos tiveram rentabilidade modesta em março. Ao contrário do que ocorreu em fevereiro, a bolsa foi o pior investimento do mês. As perdas nominais do Ibovespa em fevereiro foram de 5,43%, o que, em termos reais, descontando-se a inflação medida pelo IGP-M (Índice Geral de Preços - Mercado), representa uma perda de 6,23%.

No mês de fevereiro, vale lembrar, o Ibovespa acumulou forte valorização de 15,56%, ou então 15,21%, sem a inflação. Para os demais investimentos, as rentabilidades ficaram próximas no mês de março.

Dólar Ptax foi o melhor investimento
Já o melhor investimento em março de 2005 foi o dólar, que apresentou uma rentabilidade positiva de 2,74% no mês, em termos nominais, e de 1,87% em termos reais.

Outros destaques positivos ficaram com CDI, cujos ganhos nominais refletiram o elevado patamar da taxa básica de juro e atingiram 1,52% no mês, para um retorno real de 0,66%, e o CDB pré 30 dias, que acumulou um retorno positivo de 1,45% e de 0,59%, deflacionado pelo IGP-M.

Confira a rentabilidade dos principais investimentos na tabela abaixo:

Investimento Março Real* Fevereiro Real**
Ibovespa -5,43% -5,81% +15,56% +15,21%
CDI*** +1,52% +0,66% +1,15% +0,85%
CDB **** +1,45% +0,59% +1,41% +1,11%
Poupança +0,67% -0,18% +0,63% +0,33%
Dólar Paralelo -0,95% -1,78% -4,08% -4,37%
Dólar Ptax +2,74% +1,87% -1,14% -1,43%
Ouro 1,09% 0,24% +2,25% +1,94%
IGP-M 0,85%
0,30%

Inflação provoca fuga na Bovespa

O aumento da inflação no mercado global, impulsionada pela escalada do preço do petróleo e das commodities, aliado à queda do resultado das empresas nos mercados desenvolvidos têm provacado um movimento de aversão ao risco por parte dos investidores estrangeiros, levando a uma fuga de capitais dos países emergentes.
Só em junho a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) registrou saída de R$ 7,415 bilhões de capital estrangeiro, acumulando saldo negativo de R$ 6,65 bilhões no primeiro semestre de 2008. Com saída dos investidores externos, cuja participação é de 35,3% em relação ao volume total negociado, o número de negócios no mês caiu 8,66% na comparação com maio, somando 4,754 milhões.
Para o gerente de pesquisa da corretora Planner, Ricardo Martins, a percepção de um ciclo inflacionário mais longo e da piora do cenário em relação ao crescimento da economia nos países desenvolvidos provocou a saída dos investidores estrangeiros dos mercados emergentes. "A tese de que o crescimento dos países emergentes poderia equilibrar a retração econômica dos mercados desenvolvidos começa a ser questionada, com o movimento de alta da taxa de juros para controlar a inflação, que deve ter reflexos no desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) desses países", diz. Isso acentuou, segundo Martins, o movimento de venda e de conseqüente correção do preço de algumas ações que haviam apresentado forte alta com a elevação do Brasil a grau de investimento, levando o Ibovespa a apresentar queda de 10,4% em junho, acumulando perda de 7,22% no ano, até ontem.

quarta-feira, julho 02, 2008

Para onde vai a Bolsa nos próximos seis meses?

Analistas destacam ações e setores com melhores perspectivas no segundo semestre

Vinícius Pinheiro - AE

Para quem se assustou com a forte volatilidade apresentada pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no primeiro semestre, os especialistas têm uma boa e uma má notícia: a ruim é que o sobe-e-desce das ações deve permanecer nos próximos seis meses do ano. A boa é que o saldo da tubulência que afeta os mercados financeiros há quase um ano em todo o mundo deve ser positivo para a Bolsa brasileira. Ou seja, o investimento em ações continua recomendado, embora com cautela.

As preocupações com a economia e o setor financeiro nos Estados Unidos, além da escalada da inflação, principais razões da oscilação nos primeiros meses do ano, devem persistir no segundo semestre, de acordo com o chefe da área de análise da Link Investimentos, Celso Boin Junior.

Ele avalia que as perdas das instituições financeiras norte-americanas no segmento de crédito imobiliário de alto risco (subprime) deverão se estender até 2009, o que deve contribuir para novas oscilações do mercado de ações. “Por outro lado, apesar de o clima ainda ser negativo, já não se fala mais em crise sistêmica, como no início do ano”, destaca.

O aumento da inflação também preocupa por conta da perspectiva de que o Banco Central precise elevar mais os juros para conter o ritmo de crescimento da economia e, por conseqüência, o resultado das empresas. O profissional da Link espera um “ciclo razoável” de ajuste na taxa básica de juros (Selic), embora em uma magnitude menor do que a esperada pelos analistas mais pessimistas com a Bolsa.

Acima da renda fixa

De acordo com o superintendente da Santander Asset Management, Alexandre Silvério, mesmo com as incertezas que pairam sobre o mercado, o desempenho da Bovespa deve superar, “em larga medida”, o CDI, indicador de referência dos investimentos de renda fixa.

O otimismo da instituição tem como base a expectativa de crescimento no lucro das empresas, que deve superar os 15% este ano. “O Ibovespa (principal índice da Bolsa) caminha para fechar o ano entre 75 mil e 80 mil pontos”, projeta.

Para o analista de Investimentos da corretora Coinvalores, Marco Saravalle, o desempenho da Bolsa no segundo semestre dependerá também das ações dos Bancos Centrais internacionais, como o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA). “O cenário é de cautela, mas não acho que seja o momento de reduzir a exposição em Bolsa”, diz.

“Otimismo cauteloso” é a definição usada pelo superintendente de Renda Variável do Banco Votorantim, Luiz Sedrani, para a Bovespa no segundo semestre. Enquanto a prudência vem das incertezas vindas do exterior, a sustentação para os bons resultados vem da perspectiva positiva para a economia e as empresas brasileiras.

As escolhas

Saravalle, da Coinvalores, aponta que, apesar da maior incerteza no cenário externo, a economia brasileira deve seguir apresentando bons fundamentos. Ele, porém, recomenda ao investidor que procure ações de empresas que possuam um fluxo de caixa mais previsível e menos dependente das flutuações econômicas.

O analista destaca os papéis das concessionárias de rodovias, que possuem as tarifas reajustadas pelo IGP-M e estão, portanto, protegidas de uma possível disparada da inflação, além das empresas do setor elétrico, consideradas boas pagadoras de dividendos.

A Link Investimentos mantém para este semestre as recomendações dadas no início do ano, concentradas em quatro setores: consumo e bancos, transportes e logística, energia elétrica e siderurgia. Os dois primeiros não foram bem no primeiro semestre, mas o chefe de análise da instituição considera que a reação do mercado foi exagerada e que os papéis devem se recuperar no segundo semestre.

Para Sedrani, do Banco Votorantim, as ações de consumo e bancos podem se tornar uma boa opção apenas a partir dos últimos três meses do ano, quando o cenário de inflação e a trajetória das taxas de juros estiverem mais claras. Por enquanto, ele considera que os papéis de empresas produtoras de commodities (matérias-primas) devem apresentar melhor performance.

O superintendente da área de gestão de fundos do Santander também aposta que o bom desempenho da Bolsa no segundo semestre será puxado pelas ações ligadas ao setor de matérias-primas. “Vale lembrar que os papéis de Vale e Petrobras não acompanharam a alta das commodities no semestre.” Ele considera, porém, que as empresas do setor de varejo devem permanecer “no radar” do investidor.