quinta-feira, janeiro 08, 2009

Analistas não recomendam ações de empresas petroquímicas

A indústria petroquímica nacional ingressa em 2009 com as mesmas incertezas que a crise econômica gerou para os demais setores, porém há fatores específicos que engrossam a lista de preocupações desse segmento e ampliam as dúvidas quanto ao desempenho do setor neste ano.

Além da redução da demanda causada pelo agravamento da crise mundial e a variação do câmbio, fatores determinantes para todas as indústrias brasileiras, outras duas variáveis devem ditar o ritmo de negócios das petroquímicas brasileiras: variação do preço do petróleo e aumento da oferta mundial de petroquímicos. Essa combinação de fatores, aliada ao início do ciclo de baixa da petroquímica mundial, leva analistas a descartarem as ações do setor como um investimento atrativo para este ano.

O ano de 2009 dará início a um período de redução nas margens das petroquímicas que deverá durar até 2011 ou 2012, segundo previsões de analistas e direção de grandes empresas brasileiras, Braskem e Unipar. Esse cenário, considerado preocupante mas já previsto pelo mercado, ficou ainda mais adverso com o agravamento da crise da economia mundial. A redução da atividade econômica global resultou em retração na demanda por petroquímicos básicos e resinas termoplásticas. Para fazer frente à nova conjuntura do mercado, as duas companhias anunciaram medidas de redução de produção.

A Braskem paralisou duas de suas quatro linhas de produção de eteno. Com isso, passou a operar com 55% da capacidade instalada. A decisão também se refletiu no volume de produção de polietilenos (PE) e de polipropileno (PP). A Quattor, empresa controlada pela Unipar, por sua vez, concedeu férias coletivas temporárias a funcionários de unidades de PP. As medidas visam a contribuir para a redução nos níveis dos estoques na cadeia.

Aumento da oferta

Mas essas medidas podem ter impacto limitado diante do cenário de aumento de oferta que se desenha, tanto no Brasil quanto no exterior. Em território brasileiro, a capacidade de produção de petroquímicos básicos (casos de eteno e propeno) crescerá com a conclusão da expansão da Petroquímica União (PQU), empresa que compõe a Quattor. Juntamente a essa expansão, haverá aumento de oferta de polietilenos (pela Polietilenos União) e polipropileno (Quattor Petroquímica). Além disso, a Braskem realizou paradas para manutenção nas duas centrais petroquímicas ao longo de 2008 e já opera com níveis mais altos de produtividade.

No mercado internacional, o aumento de capacidade ocorrerá principalmente no Oriente Médio e na Ásia, onde a oferta de eteno deverá crescer de 8 milhões a 10 milhões de toneladas entre 2009 e 2010, segundo estimativa da Bradesco Corretora. E esse aumento da capacidade mundial, de aproximadamente 7%, chegará em um momento de crise. "O que era para ser um ciclo de baixa suave deve ser um ciclo de baixa entre os mais profundos dos últimos tempos", afirma o analista Auro Rozenbaum, da Bradesco, para quem este não é o momento de se investir no setor.

Outro agravante, continua Rozenbaum, é o fato de a oscilação das ações das petroquímicas estar fundamentada no cenário de negócios do setor, e não na evolução do Ibovespa. "Tradicionalmente, as ações acompanham os ciclos, por isso não é hora para o setor agora", diz. O cenário deve começar a melhorar apenas a partir de 2010, dizem os analistas que acompanham o setor.

Para fazer frente às dificuldades previstas no novo ciclo de baixa, a petroquímica brasileira ganhou novas formas: a Braskem adquiriu os ativos petroquímicos do grupo Ipiranga e a Unipar uniu suas empresas com atuação nesse segmento com a Petrobras, que havia comprado a Suzano Petroquímica, criando a Quattor. Em seguida, Braskem e Quattor intensificaram negociações com a Petrobras para que a estatal revisse sua política de preços - a Petrobras é a única fornecedora nacional de nafta, insumo que dá origem aos petroquímicos básicos. Mas as empresas ainda não chegaram a um consenso.

Preços


A principal crítica ao modelo adotado pela Petrobras é a demora com que os preços internos se ajustam aos valores praticados no exterior, uma vez que a estatal leva um mês para repassar as variações da nafta registradas no mercado europeu. E como os preços estão em queda, os fabricantes brasileiros têm operado com custo de produção superior ao dos concorrentes de outras regiões do mundo.

A mesma tendência de queda de preços é vista nas resinas. Por isso, espera-se que fábricas menos competitivas não consigam se manter em operação. "As novas unidades vão fechar a produção das pequenas fábricas", destaca Rozenbaum.

A derrocada nos preços das resinas, além de refletir os novos valores do petróleo e da nafta - cujos preços caíram de mais de US$ 1.100 em julho para menos de US$ 300 este mês na Europa -, também confirma a retração do consumo mundial. "A demanda se contraiu e novos ajustes de preços devem ocorrer em 2009", afirma o analista-chefe da Link Investimentos, Andres Kikuchi. Segundo projeções da Tendências Consultoria, o consumo aparente de resinas termoplásticas no Brasil deve apresentar crescimento de 4,2% em 2009 sobre 2008, ritmo três vezes inferior ao registrado este ano, quando o consumo deve registrar alta de 12,4%.

Em contrapartida, a valorização do dólar sobre o real beneficia as petroquímicas. As exportações se tornam mais competitivas e as importações, menos atrativas. Mas isso não significa que os transformadores plásticos deixarão de comprar resinas no exterior, segundo Kikuchi. "O mercado brasileiro é atrativo, e mesmo com um real mais fraco, os produtos importados são muito competitivos", diz. Devido à retração da demanda mundial, é provável que as petroquímicas estrangeiras olhem para o Brasil como um novo mercado para seus produtos.

Para os analistas que acompanham o setor, a melhor opção no mercado de capitais são as ações da Braskem. "O momento do setor não é benéfico para 2009, mas para quem deseja uma carteira diversificada, a Braskem é uma opção", afirma o analista da Coinvalores, Marco Saravalle. "Entre Unipar e Braskem, preferimos a segunda, em função do porte da empresa e da posição de liderança no mercado local", destaca a Fator Corretora em relatório.

Ultrapar


A outra empresa do setor químico com ação listada na Bolsa de Valores de São Paulo é a Ultrapar, que em menos de 20 meses, a partir de março de 2007, adquiriu a rede de combustíveis da Ipiranga e a marca Texaco. Com isso, tornou-se vice-líder de um mercado no qual não atuava até então. "Essas aquisições dão estabilidade de fluxo de caixa à companhia, que passa a ter um novo panorama", ressalta Kikuchi.

Além de ser uma empresa com receita líquida anual de quase R$ 30 bilhões, a Ultrapar atua em segmentos promissores, como a distribuição de combustíveis e GLP. "A Ultrapar vai ter sempre um crescimento mais gradual, mas um crescimento mais esperado", afirma o analista da Link. Em momentos de incertezas, empresas mais previsíveis são mais bem vistas pelos investidores.

Apesar disso, Saravalle, da Coinvalores, não acredita que as ações da Ultrapar sejam um bom investimento em 2009. Como grande parte da receita é proveniente da venda de combustíveis, a desaceleração nos indicadores de vendas de automóveis pode repercutir negativamente nos papéis. "No curto prazo, há um fator de redução nas vendas, mas a Ultrapar é um ativo interessante no longo prazo, após 2009", destaca.

segunda-feira, janeiro 05, 2009

As ações que perderam espaço em 2008

Crise financeira internacional, aperto de crédito e fuga de estrangeiros fizeram de 2008 um marco na quebra do ciclo de consecutivas altas da Bolsa paulista. As baixas das ações foram generalizadas. Alguns papéis, porém, tiveram um desempenho bem pior que a média do mercado. Enquanto o principal índice de ações brasileiro – o Ibovespa – acumula queda de aproximadamente 37% no ano, os chamados “micos” chegaram a despencar mais de 60%.

As ações no vermelho não são só aquelas de fora do índice. Segundo levantamento da Economática, dentro do Ibovespa, as ações da B2W, Sadia, Cyrela Realty e Duratex apresentaram as maiores baixas, todas acima de 60%, até o fechamento de ontem. Lojas Renner registrou queda um pouco menor (aproximadamente – 53%), mas, mesmo assim, bem acima do Ibovespa.

As cinco empresas haviam exibido grande valorização em 2007, que variou entre 19% e 45%. Em 2008, tanto o cenário econômico negativo quanto algumas trapalhadas das companhias contribuíram para o resultado ruim para o investidor.

“O mercado vendeu as ações da B2W, já antecipando possíveis resultados negativos no balanço do quarto trimestre”, diz Peter Ho. Apesar de a empresa afirmar que seu público pertence às classes A e B, para Ho, os consumidores da companhia são sensíveis à restrição ao crédito. Com o dinheiro mais caro na praça, a tendência é que os compradores optem por adquirir produtos parcelados em mais vezes. Assim, as redes varejistas se tornariam grandes competidoras dos portais de compra.

Além disso, o analista acredita que no setor há certo canibalismo. “A B2W atua através da Americanas.com, Shoptime e Submarino. Perdeu-se um pouco da identidade da empresa”, avalia. “Há muito canibalismo no setor e o que se percebe é que há uma migração muito grande de consumidores entre os sites, mas pouco crescimento bruto de público”, completa.

Sadia PN (-62,71%)
Sadia registrou prejuízo de R$ 760 mi com derivativos

Os problemas que atingiram a Sadia não foram exclusivos da empresa, mas a companhia foi uma das que saíram com maior prejuízo. A Sadia investiu em derivativos de câmbio, apostando na queda, para, segundo ela, se proteger da variação do dólar. Com a alta expressiva da moeda, o resultado foi o inverso.

Houve um prejuízo de R$ 760 milhões, que não foi bem visto pelo mercado. “A partir daí houve uma venda em massa das ações”, relata o analista Peter Ping Ho, da corretora Planner. Para os especialistas, o prejuízo, além de afetar o caixa, comprometeu a atividade da empresa. “A atitude comprometeu a atividade da empresa para os próximos meses”, avalia.

Cyrela Realty ON (-61,79%)

A Cyrela Realty não foi a única do setor de construção civil a sofrer grandes perdas na Bolsa paulista. “Com o aumento da preocupação quanto ao futuro das vendas das construtoras, as empresas do segmento diminuíram o ritmo de lançamentos e revisaram as projeções”, afirma a equipe de análise da corretora Banif.

A companhia diminuiu a previsão de lançamentos e vendas no ano de R$ 7 bilhões para um valor entre R$ 5,25 bilhões a R$ 5,6 bilhões. A meta de vendas também foi cortada de R$ 5,5 bilhões para entre R$ 4,675 bilhões e R$ 4,95 bilhões. “Também contribuiu para a queda o fato de as ações estarem concentradas nas carteiras dos estrangeiros, que em 2008, se desfizeram de muitos papéis líquidos da Bovespa”, avalia a equipe da Banif. Na abertura de capital em 2005 (IPO na sigla em inglês), 72% das ações foram vendidas para estrangeiros.

Crise fez companhia diminuir a previsão de lançamentos e vendas

“A somatória de fatores criou uma expectativa negativa para a empresa e um cenário nítido de desaceleração no setor como um todo”, diz a corretora Banif. “Há uma leitura no mercado de que o resultado do quarto trimestre, anunciado no início de 2009, trará vendas fracas.”

Duratex PN (-60,08%)

A Duratex teve dois problemas em 2008. No primeiro semestre, quando o preço do petróleo subiu à casa de US$ 150, os custos de produção da fabricante de produtos de madeira, louça e metais sanitários aumentaram, já que algumas das matérias-primas utilizadas pela empresa são a resina de uréia (derivado de petróleo) e o gás natural.

Na segunda metade do ano, o que pesou sobre as ações da companhia foi a preocupação com o setor de construção civil. O vice-presidente da Duratex informou que as obras que já estão em andamento garantem a demanda de produtos da Deca (divisão da empresa) por mais um ou dois anos. O segmento corresponde a apenas 20% das vendas. Segundo o executivo, a demanda por parte de revendas e reformas, porém, pode sofrer impactos maiores da crise.

Com o negócio diretamente relacionado com o setor imobiliário brasileiro, a Duratex não tem um cenário tão favorável nos próximos meses, já que várias empresas de construção anunciaram redução no número de lançamentos.

Lojas Renner ON (-52,81%)
Desistência de compra de outra varejista prejudicou ações da Lojas Renner

Desistir da compra de uma concorrente custou caro para a Lojas Renner. No início do ano, a rede varejista anunciou o início do processo de compra da Lojas Leader, do Rio de Janeiro. O objetivo era aumentar a participação da companhia nos segmentos da classes C e D.

Com o avanço da crise, a empresa voltou atrás e, em outubro, informou que o negócio não iria mais sair. “O planejamento estratégico da empresa contava com a aquisição. A estratégia dela acabou praticamente”, lembra o analista Peter Ho, que ressalta que a previsão de vendas foi revisada para baixo.

“O mercado também antecipou um possível resultado negativo no quarto trimestre, caso haja redução nas vendas durante a época do Natal”, explica. Por enquanto, o aperto de crédito ainda não atingiu os negócios da empresa, mas há uma expectativa de que o ritmo de vendas diminua.

Ações de longo prazo requer exercício da paciência

Ser paciente e investir de olho no longo prazo são as principais recomendações dos especialistas para quem investe em ações. Mas se engana quem pensa que essa sugestão signifique que o investidor deva comprar ações e só voltar a olhar a carteira no momento da venda - depois de, no mínimo, um ano. “É preciso ter uma visão de longo prazo, mas uma gestão de curto”, ensina o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Alexandre Assaf Neto.

Neto é adepto de uma das recomendações do megainvestidor norte-americano Warren Buffett – detentor da maior fortuna do mundo, de US$ 62 bilhões, de acordo com a revista Forbes. Buffett diz que o investidor deve rever seu portfólio e fazer um giro anual entre 10% e 20% dos papéis em carteira. A estratégia faria com que o acionista trocasse todas ações num prazo entre cinco e dez anos. “A idéia de que se deve comprar uma ação e levá-la para o túmulo é equivocada”, reforça o professor Neto.

Se fazer a gestão de uma carteira fosse somente escolher os papéis para compra, o trabalho das consultorias de investimentos seria bem mais fácil. “A premissa básica é investir no longo prazo, mas balanceamos a carteira a cada seis meses, sempre adequando a carteira à estratégia do investidor”, explica o sócio da consultoria AZ Investimentos, Ricardo Zeno. Dentro da estratégia, o investidor pode, por exemplo, determinar um porcentual de rentabilidade que deseja obter com a ação. Quando atingir o lucro desejado, a recomendação é de venda.

Não há uma regra que determine quanto da carteira deve ser atualizada nas revisões. “Buffett recomenda até 20%, mas ele está em uma economia extremamente estável, apesar da crise”, pondera o professor de Mercados Financeiros Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios. “No Brasil, em que a instabilidade é maior, o giro deve ser ampliado. Aproximadamente um terço da carteira deve ser ajustado”, completa. Nesse ajuste, mesmo as ações mais líquidas, como Vale e Petrobras, podem ser vendidas.

Prejuízos e lucros


Prazo, perspectiva e porcentual dos papéis a serem vendidos são variáveis que devem ser levadas em consideração no momento de revisão da carteira. Os especialistas recomendam que o ajuste seja semestral, a partir da data de formação da carteira. Se o investidor fizer alterações em períodos menores, ignora a estratégia de longo prazo. “Deixa de ser investidor e se torna especulador”, afirma Zeno. Já se demorar um prazo maior, o cenário econômico poderá ter sofrido muitas modificações, o que dificulta avaliações, principalmente para os novatos.

Não há uma regra sobre quais papéis devem ser vendidos. “No momento de revisão, o acionista deve aprender a assumir prejuízos de papéis que podem cair ainda mais, e também a embolsar lucros, se no cenário futuro houver melhores investimentos”, ensina o sócio da AZ Investimentos. Assim, a perspectiva traçada para cada ação é fundamental no momento em que o investidor revê a carteira e decide o que vender.

Nessa estratégia, instrumentos que podem auxiliar o investidor são o stop loss e stop gain. No primeiro, o acionista estabelece um preço menor que o negociado num determinado momento. Se o papel cair e o valor for atingido, é disparada automaticamente uma ordem de venda, o que limita o prejuízo do investidor. No caso oposto, de alta do papel, o acionista pode utilizar o stop gain. Quando a ação sobe e alcança determinada cotação, o papel é vendido e o investidor embolsa o lucro.

Empresas e setores


Os especialistas recomendam que o investidor fique atento aos setores que compõem sua carteira de ações. “A carteira deve ter no mínimo quatro ações e um setor não deve representar mais que 50% da aplicação”, afirma Zeno. Não há consenso entre os profissionais de mercado sobre o número mínimo. Alguns falam em 12 ou até 20 papéis, o que dificultaria o acompanhamento.

A diversificação de setores é mais simples. O ideal é ter papéis de dois tipos de empresas: as influenciadas pela economia mundial, como produtoras de commodities (Petrobras e Vale, por exemplo), e as voltadas para o mercado doméstico. Assim, ao fazer a revisão da carteira, o investidor deve ajustar o porcentual dos setores. Caso uma ação se valorize muito e passe a ter um peso grande na carteira, o investidor pode vender, por exemplo, alguns papéis e distribuir o valor na compra de outros ativos.

Nesse segundo semestre de 2008, Zeno diz que as carteiras com exposição a setores ligados a commodities deveriam ter sido reduzidas. Havia perspectiva de que os preços das matérias-primas iriam despencar em decorrência da crise internacional.