quarta-feira, outubro 08, 2008

Debate sobre o que fazer em tempos de crise atormenta investidor

Na ponta da língua do investidor: "é o fim do mundo?". Na ponta da língua do analista: "não faça movimentos bruscos em momentos de euforia". Em outros tempos, esse seria o clima durante uma queda consistente da Bolsa. Agora a rotina de baixas contínuas, muitas com variações cinematográficas, mexeu no teor do debate.

A sintonia entre investidor e analista parece sentir o desgaste do pânico nos mercados. Frente à mudança de cenário, o otimismo com os fundamentos econômicos, citados à exaustão no passado recente, cedeu lugar à cautela. Em contrapartida, para muitos aplicadores, a palavra de ordem é "compra", mirando as fortes quedas recentes como uma oportunidade.

Como de praxe, o mês de outubro começou recheado de carteiras de recomendações assinadas por equipes que alertavam para a turbulência corrente. Com destaque para setor elétrico e boas pagadoras de dividendos. Na outra ponta, enquete junto aos investidores denotou uma visão de que comprar pode ser a melhor alternativa.

Conflito

Para os autores dos relatórios, como o da Ativa, a principal dificuldade é traçar algum panorama de curto prazo. As carteiras de Banif e Socopa, por exemplo, privilegiam uma postura defensiva, incluindo papéis de empresas com sólidos fundamentos e elevada geração de caixa para enfrentar a volatilidade nos mercados.

Para a maioria dos investidores, a nuvem de incertezas não abala uma estratégia básica do mercado acionário: "comprar na baixa". Pelo menos esse foi o resultado de enquete realizada no final de setembro. Diante da pergunta: "Qual sua perspectiva em relação à crise financeira mundial?", 1.931 das 4.332 escolhas (44,58%) apontaram a opção "esta é a melhor chance para comprar dos últimos anos".

De acordo com a Merrill Lynch, o terceiro trimestre foi o pior da renda variável dos mercados emergentes em todos os tempos. Mas isso não significa que é o momento de "fechar os olhos e comprar". "Os investidores precisam ver uma mudança nos indicadores globais, flexibilização do crédito e da política monetária destes países antes de comprar. Tudo mais possível em 2009", interpreta o banco.

Histórico

Importante notar que os desdobramentos da crise - com sinais de aprofundamento na Europa e temores mais incisivos relacionados ao Brasil - ainda não permitiram uma revisão de estimativas para as ações brasileiras. Deste modo, é comum encontrar preços-alvo equivalentes a um potencial de valorização de três dígitos.

Neste ano, o descolamento de viés entre investidor e analista teve outro episódio em julho. Enquete revelou que mais de 36% dos usuários utilizavam estratégia compradora no mercado, ignorando a turbulência, à época mais tímida. Enfim, entre enquetes e carteiras, recomenda-se que, na prática, a prudência e o bom senso prevaleçam ao alocar seus recursos.

Nenhum comentário: