segunda-feira, janeiro 05, 2009

As ações que perderam espaço em 2008

Crise financeira internacional, aperto de crédito e fuga de estrangeiros fizeram de 2008 um marco na quebra do ciclo de consecutivas altas da Bolsa paulista. As baixas das ações foram generalizadas. Alguns papéis, porém, tiveram um desempenho bem pior que a média do mercado. Enquanto o principal índice de ações brasileiro – o Ibovespa – acumula queda de aproximadamente 37% no ano, os chamados “micos” chegaram a despencar mais de 60%.

As ações no vermelho não são só aquelas de fora do índice. Segundo levantamento da Economática, dentro do Ibovespa, as ações da B2W, Sadia, Cyrela Realty e Duratex apresentaram as maiores baixas, todas acima de 60%, até o fechamento de ontem. Lojas Renner registrou queda um pouco menor (aproximadamente – 53%), mas, mesmo assim, bem acima do Ibovespa.

As cinco empresas haviam exibido grande valorização em 2007, que variou entre 19% e 45%. Em 2008, tanto o cenário econômico negativo quanto algumas trapalhadas das companhias contribuíram para o resultado ruim para o investidor.

“O mercado vendeu as ações da B2W, já antecipando possíveis resultados negativos no balanço do quarto trimestre”, diz Peter Ho. Apesar de a empresa afirmar que seu público pertence às classes A e B, para Ho, os consumidores da companhia são sensíveis à restrição ao crédito. Com o dinheiro mais caro na praça, a tendência é que os compradores optem por adquirir produtos parcelados em mais vezes. Assim, as redes varejistas se tornariam grandes competidoras dos portais de compra.

Além disso, o analista acredita que no setor há certo canibalismo. “A B2W atua através da Americanas.com, Shoptime e Submarino. Perdeu-se um pouco da identidade da empresa”, avalia. “Há muito canibalismo no setor e o que se percebe é que há uma migração muito grande de consumidores entre os sites, mas pouco crescimento bruto de público”, completa.

Sadia PN (-62,71%)
Sadia registrou prejuízo de R$ 760 mi com derivativos

Os problemas que atingiram a Sadia não foram exclusivos da empresa, mas a companhia foi uma das que saíram com maior prejuízo. A Sadia investiu em derivativos de câmbio, apostando na queda, para, segundo ela, se proteger da variação do dólar. Com a alta expressiva da moeda, o resultado foi o inverso.

Houve um prejuízo de R$ 760 milhões, que não foi bem visto pelo mercado. “A partir daí houve uma venda em massa das ações”, relata o analista Peter Ping Ho, da corretora Planner. Para os especialistas, o prejuízo, além de afetar o caixa, comprometeu a atividade da empresa. “A atitude comprometeu a atividade da empresa para os próximos meses”, avalia.

Cyrela Realty ON (-61,79%)

A Cyrela Realty não foi a única do setor de construção civil a sofrer grandes perdas na Bolsa paulista. “Com o aumento da preocupação quanto ao futuro das vendas das construtoras, as empresas do segmento diminuíram o ritmo de lançamentos e revisaram as projeções”, afirma a equipe de análise da corretora Banif.

A companhia diminuiu a previsão de lançamentos e vendas no ano de R$ 7 bilhões para um valor entre R$ 5,25 bilhões a R$ 5,6 bilhões. A meta de vendas também foi cortada de R$ 5,5 bilhões para entre R$ 4,675 bilhões e R$ 4,95 bilhões. “Também contribuiu para a queda o fato de as ações estarem concentradas nas carteiras dos estrangeiros, que em 2008, se desfizeram de muitos papéis líquidos da Bovespa”, avalia a equipe da Banif. Na abertura de capital em 2005 (IPO na sigla em inglês), 72% das ações foram vendidas para estrangeiros.

Crise fez companhia diminuir a previsão de lançamentos e vendas

“A somatória de fatores criou uma expectativa negativa para a empresa e um cenário nítido de desaceleração no setor como um todo”, diz a corretora Banif. “Há uma leitura no mercado de que o resultado do quarto trimestre, anunciado no início de 2009, trará vendas fracas.”

Duratex PN (-60,08%)

A Duratex teve dois problemas em 2008. No primeiro semestre, quando o preço do petróleo subiu à casa de US$ 150, os custos de produção da fabricante de produtos de madeira, louça e metais sanitários aumentaram, já que algumas das matérias-primas utilizadas pela empresa são a resina de uréia (derivado de petróleo) e o gás natural.

Na segunda metade do ano, o que pesou sobre as ações da companhia foi a preocupação com o setor de construção civil. O vice-presidente da Duratex informou que as obras que já estão em andamento garantem a demanda de produtos da Deca (divisão da empresa) por mais um ou dois anos. O segmento corresponde a apenas 20% das vendas. Segundo o executivo, a demanda por parte de revendas e reformas, porém, pode sofrer impactos maiores da crise.

Com o negócio diretamente relacionado com o setor imobiliário brasileiro, a Duratex não tem um cenário tão favorável nos próximos meses, já que várias empresas de construção anunciaram redução no número de lançamentos.

Lojas Renner ON (-52,81%)
Desistência de compra de outra varejista prejudicou ações da Lojas Renner

Desistir da compra de uma concorrente custou caro para a Lojas Renner. No início do ano, a rede varejista anunciou o início do processo de compra da Lojas Leader, do Rio de Janeiro. O objetivo era aumentar a participação da companhia nos segmentos da classes C e D.

Com o avanço da crise, a empresa voltou atrás e, em outubro, informou que o negócio não iria mais sair. “O planejamento estratégico da empresa contava com a aquisição. A estratégia dela acabou praticamente”, lembra o analista Peter Ho, que ressalta que a previsão de vendas foi revisada para baixo.

“O mercado também antecipou um possível resultado negativo no quarto trimestre, caso haja redução nas vendas durante a época do Natal”, explica. Por enquanto, o aperto de crédito ainda não atingiu os negócios da empresa, mas há uma expectativa de que o ritmo de vendas diminua.

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