segunda-feira, janeiro 05, 2009

Ações de longo prazo requer exercício da paciência

Ser paciente e investir de olho no longo prazo são as principais recomendações dos especialistas para quem investe em ações. Mas se engana quem pensa que essa sugestão signifique que o investidor deva comprar ações e só voltar a olhar a carteira no momento da venda - depois de, no mínimo, um ano. “É preciso ter uma visão de longo prazo, mas uma gestão de curto”, ensina o professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), Alexandre Assaf Neto.

Neto é adepto de uma das recomendações do megainvestidor norte-americano Warren Buffett – detentor da maior fortuna do mundo, de US$ 62 bilhões, de acordo com a revista Forbes. Buffett diz que o investidor deve rever seu portfólio e fazer um giro anual entre 10% e 20% dos papéis em carteira. A estratégia faria com que o acionista trocasse todas ações num prazo entre cinco e dez anos. “A idéia de que se deve comprar uma ação e levá-la para o túmulo é equivocada”, reforça o professor Neto.

Se fazer a gestão de uma carteira fosse somente escolher os papéis para compra, o trabalho das consultorias de investimentos seria bem mais fácil. “A premissa básica é investir no longo prazo, mas balanceamos a carteira a cada seis meses, sempre adequando a carteira à estratégia do investidor”, explica o sócio da consultoria AZ Investimentos, Ricardo Zeno. Dentro da estratégia, o investidor pode, por exemplo, determinar um porcentual de rentabilidade que deseja obter com a ação. Quando atingir o lucro desejado, a recomendação é de venda.

Não há uma regra que determine quanto da carteira deve ser atualizada nas revisões. “Buffett recomenda até 20%, mas ele está em uma economia extremamente estável, apesar da crise”, pondera o professor de Mercados Financeiros Alcides Leite, da Trevisan Escola de Negócios. “No Brasil, em que a instabilidade é maior, o giro deve ser ampliado. Aproximadamente um terço da carteira deve ser ajustado”, completa. Nesse ajuste, mesmo as ações mais líquidas, como Vale e Petrobras, podem ser vendidas.

Prejuízos e lucros


Prazo, perspectiva e porcentual dos papéis a serem vendidos são variáveis que devem ser levadas em consideração no momento de revisão da carteira. Os especialistas recomendam que o ajuste seja semestral, a partir da data de formação da carteira. Se o investidor fizer alterações em períodos menores, ignora a estratégia de longo prazo. “Deixa de ser investidor e se torna especulador”, afirma Zeno. Já se demorar um prazo maior, o cenário econômico poderá ter sofrido muitas modificações, o que dificulta avaliações, principalmente para os novatos.

Não há uma regra sobre quais papéis devem ser vendidos. “No momento de revisão, o acionista deve aprender a assumir prejuízos de papéis que podem cair ainda mais, e também a embolsar lucros, se no cenário futuro houver melhores investimentos”, ensina o sócio da AZ Investimentos. Assim, a perspectiva traçada para cada ação é fundamental no momento em que o investidor revê a carteira e decide o que vender.

Nessa estratégia, instrumentos que podem auxiliar o investidor são o stop loss e stop gain. No primeiro, o acionista estabelece um preço menor que o negociado num determinado momento. Se o papel cair e o valor for atingido, é disparada automaticamente uma ordem de venda, o que limita o prejuízo do investidor. No caso oposto, de alta do papel, o acionista pode utilizar o stop gain. Quando a ação sobe e alcança determinada cotação, o papel é vendido e o investidor embolsa o lucro.

Empresas e setores


Os especialistas recomendam que o investidor fique atento aos setores que compõem sua carteira de ações. “A carteira deve ter no mínimo quatro ações e um setor não deve representar mais que 50% da aplicação”, afirma Zeno. Não há consenso entre os profissionais de mercado sobre o número mínimo. Alguns falam em 12 ou até 20 papéis, o que dificultaria o acompanhamento.

A diversificação de setores é mais simples. O ideal é ter papéis de dois tipos de empresas: as influenciadas pela economia mundial, como produtoras de commodities (Petrobras e Vale, por exemplo), e as voltadas para o mercado doméstico. Assim, ao fazer a revisão da carteira, o investidor deve ajustar o porcentual dos setores. Caso uma ação se valorize muito e passe a ter um peso grande na carteira, o investidor pode vender, por exemplo, alguns papéis e distribuir o valor na compra de outros ativos.

Nesse segundo semestre de 2008, Zeno diz que as carteiras com exposição a setores ligados a commodities deveriam ter sido reduzidas. Havia perspectiva de que os preços das matérias-primas iriam despencar em decorrência da crise internacional.

Nenhum comentário: