sexta-feira, dezembro 12, 2008

As opiniões dos corretores nem sempre dão certo

Quem seguiu as sugestões de ações das corretoras neste ano perdeu dinheiro: de seis corretoras pesquisadas, apenas duas alcançaram um desempenho de carteira recomendada melhor do que a oscilação do Ibovespa, principal índice de ações brasileiro. Até o fechamento de novembro de 2008, o Ibovespa registrou queda de pouco mais de 42%, e, nesse período, nenhuma carteira conseguiu ficar no azul, de acordo com os últimos relatórios divulgados pelas corretoras. Entre aquelas que pelo menos caíram menos em comparação com a Bolsa paulista aparecem as sugestões da Planner e da SLW. No outro grupo - com baixas maiores do que o Ibovespa - estão Ágora, Ativa, Coinvalores e Spinelli.

Mensalmente, algumas corretoras costumam divulgar relatórios com sugestões de papéis em que apostam na valorização. Em geral, a recomendação vem acompanhada de uma explicação do por que a corretora indica a ação ou o setor. Essas carteiras servem de guias para muitos investidores que confiam na análise dos profissionais especializados. A crise, no entanto, que derrubou as Bolsas no mundo todo, não ajudou na previsão das melhores apostas.

“Num momento de queda generalizada do mercado, é muito difícil ficar positivo por conta das poucas opções de investimento”, diz o analista e gerente da área de pesquisas da Planner Ricardo Martins.

Algumas corretoras conseguiram acertar mais na indicação, mas mesmo assim ficaram no vermelho. Foi o caso da SLW, cuja aposta nas siderúrgicas ajudou. “No primeiro semestre, as ações das siderúrgicas ajudaram bastante no desempenho da carteira”, comenta a economista-chefe da SLW Kelly Cristina Neander Trentin. Até maio, algumas siderúrgicas tiveram desempenho melhor do que o Ibovespa no mês, segundo Trentin. No período, a corretora chegou a sugerir até duas ações do setor em cada carteira.

“Os papéis subiram mais que o índice ou caíram menos que o indicador”, lembra a economista. Em março, por exemplo, a Bovespa recuou 3,97%, enquanto Gerdau PN caiu apenas 2% e Usiminas PNA avançou 1,35%. Ambas as ações estavam na carteira da SLW.

Liquidez

Diante da crise, a rentabilidade não foi a prioridade para algumas corretoras. “No primeiro semestre, priorizamos a liquidez. Por isso, apostamos em Vale, Petrobras e siderúrgicas”, diz Martins, da Planner. A petroquímica contribuiu positivamente para o desempenho da carteira, avançando 8,8%, mas a mineradora Vale se desvalorizou 5%.

Apesar do bom desempenho das principais siderúrgicas no primeiro semestre (CSN avançou 39%, Gerdau subiu 49% e Usiminas se valorizou 46%), a partir das Olimpíadas da China o cenário mudou para o setor. “Durante as competições, o ritmo da China desacelerou e depois ficou evidente que haveria mais quedas na produção”, lembra Martins.

Com disso, perdeu menos quem percebeu a mudança de perspectiva. Algumas corretoras optaram por reduzir a participação dos setores mais atingidos pela crise, como é o caso do segmento ligado a matérias-primas (commodities).

Em junho, por exemplo, Petrobras, Vale e siderúrgicas representavam 45% da carteira sugerida da Planner. Na recomendação de dezembro, a participação da Petrobras já havia diminuído de 15% para 6%; Vale, antes com 15%, representou 5%; e as siderúrgicas nem figuravam mais entre as sugestões. No lugar destas ações, como ocorre comumente em momentos de crise, apareceram setores considerados mais seguros, como energia elétrica e telecomunicações.

Ajustes


Quem demorou a fazer os ajustes na composição ou ainda mantém altos os porcentuais de setores ligados a commodities na carteira aparece na lanterninha dos desempenhos. Ativa, Ágora e Coinvalores, por exemplo, reduziram um pouco a participação, de três, quatro pontos porcentuais.

Na Ativa, por exemplo, Petrobras e Vale ainda somam mais de 20% da carteira. A Ágora diminuiu a participação da petrolífera de 18,83% em novembro para 16,6% em dezembro, mas ainda recomenda Vale e Gerdau. Na Coinvalores, o porcentual caiu de 18% para 14% no caso da Petrobras e de 16% para 12% no caso da Vale. Há ainda uma siderúrgica (Usiminas), com 5% da participação do portfólio. Na Spinelli, que faz sugestões de ações desde março, não é atribuído nenhum peso aos papéis. No ano, desde a criação a carteira da corretora caiu 42,7%, contra uma queda de 42,36% do Ibovespa no período.

“Essas ações foram muito penalizadas e tendem a se recuperar mais rápido em uma eventual alta do mercado”, justifica o analista Jayme Alves, da Spinelli. Segundo ele, como esses papéis têm um peso muito grande no Ibovespa, não colocá-los no portfólio pode fazer com que a carteira tenha um comportamento muito descolado do mercado. “Começamos a indicar ações do setor elétrico e telecomunicações, mas mantivemos Petrobras, Vale e alguma siderúrgica na carteira”, diz.

Nenhum comentário: